A crise de 1929, e a “grande depressão” mundial resultante, mudaram as coordenadas sociais e políticas do mundo, de
modo drástico e sem retorno. Comentando a crise financeira de 2008, a revista inglesa The Economist disse que,substituindo as palavras “ações” e “ativos” por “casas” , qualquer descrição da crise econômica de 1929 poderia serusada para ela. As semelhanças, de fato, saltam aos olhos: os bancos, assim como na crise de 1929, passaram a rejeitaremprestar dinheiro com casas em garantia (ao invés de ações em 1929), e com isso muitos passaram a vender suascasas para pagar as hipotecas, pois não estavam conseguindo pagá-las. Com as casas cain
do de preço estourou a “bolhaimobiliária”, num curto espaço de tempo.
A analogia histórica é útil como subsídio para entender a especificidade de cada situação concreta. O epicentro da crisede 1929 foram os EUA, como hoje, mas por razões diversas: naquele ano, os EUA culminavam um período histórico deascensão como potência capitalista. Entre 1870 e 1929, o produto industrial dos EUA quadruplicou: massas enormes decapitais e tecnologia avançada explicam isso. Mas também a excepcional disposição de força de trabalho, de origemrural inicialmente (devido às dificuldades crescentes da pequena produção agrícola); depois imigratória. A chegada deestrangeiros foi de 700 mil (1820-1840); 4,2 milhões (1840-1860); 2,81 milhões (1870-1880, a década posterior à “guerra de secessão”); 5,43 milhões (1880 -1890) e 3,69 milhões (1890-1900). O movimento ascendente atingiu o ápiceno início século XX: 8,8 milhões (1900-1910), e começou a cair depois: 5,74 milhões em 1910-1920.